segundofolego

  À hora que escrevo, 13:40 horas, Bolsonaro, inacessível, ainda não se pronunciou sobre os resultados das eleições. Será que, seguindo o péssimo exemplo de Trump, Bolsonaro está a preparar-se para não reconhecer o resultado? Entretanto, o "carnaval" está começar. Como o ainda Presidente não fez nenhum comentário nem felicitou Lula da Silva (mesmo após o Supremo Tribunal Eleitoral já ter dado como oficial a vitória de Lula), já há relatos de bloqueios de estradas feitos por camionistas e preparação de manifestações de vários grupos de apoiantes de Bolsonaro no Whatsapp.

  Um pouco por todo o mundo, temos assistido, nos últimos anos, a falhanços rotundos das sondagens e a eleição do Presidente do Brasil tinha tudo para poder ser mais um caso desses. Dito isto, continuo a ser um crente e, apesar de algumas decepções passadas, vou arriscar (mais uma vez). PS-Publicação escrita e carregada no blogue no passado dia 19 de Outubro.

  Mais logo, quando fecharem as urnas no Brasil, qual dos dois emergirá como Presidente do Brasil? A incerteza é grande e as sondagens não são o Oráculo de Delfos.

  Numa conferência de imprensa após o último debate com Lula da Silva para as presidenciais de domingo, Jair Bolsonaro disse não perceber a pergunta feita por um jornalista português, por “não falar espanhol nem portunhol” . Bem, no que toca ao espanhol, apesar da grande semelhança admito que o Presidente brasileiro não se sinta completamente à vontade. Quanto ao "portunhol", já não percebo o desafabo de Bolsonaro. Se há país onde se fale "portunhol", esse país é o Brasil onde, apesar da língua oficial ser o português, nunca se falou (ou escreveu) em português.

  Ainda alguém se lembra de há alguns (poucos) meses o Primeiro-Ministro ter vindo á televisão explicar, com ar catedrático, que a inflação (alta) era um fenómeno passageiro e que aumentos intercalares dos trabalhadores da Administração Pública seria sinónimo de agravamento da espiral inflacionista? Provavelmente não e, de certeza, António Costa também não e, se alguém disser o contrário, é porque não entendeu o que ele disse. Pois bem, segundo o Instituto Nacional de Estatística, o tal fenómeno passageiro de que falava Costa é como a Toyota (veio para ficar), não parando de crescer, atingindo, em Outubro, os 10.2%.

Segundo as previsões do Governo, inscritas da proposta de Orçamento para o próximo ano, em 2023 Portugal vai atingir um recorde a nível de lucro com os fundos europeus. No total, o Governo espera transferências de Bruxelas na ordem dos 10 449 milhões de euros, o que, descontando a contribuição portuguesa para o orçamento comunitário (cerca de 2 525 milhões de euros), resulta num saldo positivo de 7 924 milhões de euros. Estamos a falar de 22 milhões por dia, em média!

  A Segurança Social enviou 33 cheques de 125 euros (4 125 euros) para um mesmo imóvel em Lisboa. E não estou a falar de uma torre com dezenas de andares, mas sim de um simples prédio cujo proprietário (que o herdara recentemente) apenas tinha conhecimento de um contrato de arrendamento feito a um imigrante pela sua mãe há alguns anos. E ainda há quem diga que a Segurança Social tem problemas de sustentabilidade ou falta de dinheiro!

  Apesar de Ricardo Araújo Pereira (RAP) dizer que apenas pretende fazer rir, o certo é, fazendo humor político em prime-time , RAP tem feito oposição política mais eficaz ao Governo do que todos os partidos políticos. Embora seja difícil de provar, a escolha dos alvos e das situações pode acabar por ter consequências políticas significativas. Mito ou realidade, os programas de sátira política aumentam a percepção das pessoas em relação aos temas tratados. Se isso se traduz em maior ou menor participação política, isso é outra história.

  O Banco Central Europeu (BCE), "esquecendo" a recessão que se perfila no horizonte (cenário admitido pelo próprio BCE), aumentou a taxa de juro em 0.75 pontos percentuais, para 2%. E promete não ficar por aqui, pois a inflação continua demasiado elevada (em Setembro a inflação na zona euro atingiu quase os 10%), bem acima do objectivo do Banco. É o regresso aos níveis que vigoravam em Janeiro de 2009, altura em que a Europa estava a recuperar da crise financeira de 2007/2008 e a caminho da crise das dívidas soberanas. Não sendo a inflação na zona euro provocada pela procura (nem existe nenhuma espiral inflacionista resultante de aumentos salarias), mas sim por factores exógenos, pergunta-se: Faz sentido aumentar significativamente as taxas de juro para debelar a inflação? Não será isso acrescentar recessão à recessão que já se adivinha?

  A actualização das pensões começou com um truque, o de fazer passar um adiantamento por um aumento, esquecendo que este não contaria para a base a partir da qual seriam calculados os aumentos nos anos seguintes, e acabou numa mentira: a de que, se a lei fosse cumprida, a Segurança Social perderia 13 anos de vida. Os saldos negativos começariam ainda antes de 2030 e o Fundo de Estabilização esgotar-se-ia em 2040. Tornado público o relatório do Orçamento, ficamos a saber que o Fundo não só não se esgota em 2040, como terá, em 2060, mais 8 000 000 000 (oito mil milhões) de euros do que em 2023. Isto no período de algumas (poucas) semanas, sem qualquer explicação por parte do Governo. Houvesse consequências políticas, e os pensionistas estariam hoje a exigir o cumprimento da lei e a cabeça de quem, tão deliberadamente, lhes atirou areia para os olhos.

  De acordo com a lei de Murphy, se alguma coisa pode correr mal, vai correr mal. A lei aplica-se, que nem uma luva, à substituição da liderança dos tories e da chefia do Governo do Reino Unido. O que ainda há poucos dias parecia uma loucura, o "regresso" de Boris Johnson ao "melhor trabalho do mundo" (palavras de Johnson), parece estar em cima da mesa. Os deuses devem estar loucos!

  A este ritmo, 44 dias de exercício do cargo de Primeiro-ministro, bem pode o Partido Conservador britânico experimentar todos os militantes até acertar num que "encaixe" no cargo!

  A cerca de um mês do início do Campeonato do Mundo de Futebol, Fernando Santos tem poucas razões para sorrir. A Pedro Neto (Wolverhampton), juntou-se Diogo Jota (Liverpool) como indisponível (ambos a recuperar de intervenções cirúrgicas). A estas duas ausências confirmadas acrescem as dúvidas relativas a Pepe (FC Porto), Danilo Pereira e Fernando Mendes (PSG) todos a recuperar actualmente de problemas físicos. Como se não bastasse, temos ainda a incógnita Cristiano Ronaldo, que mais parece uma sombra de si mesmo, e Rafa que anunciou  a sua "indisponibilidade" para continuar a representar a selecção nacional de futebol.

  "Nunca voltes ao sítio onde foste feliz", escreveu Carlos Tê na década de noventa, e o Cristiano Ronaldo está a vivê-lo nesta sua segunda passagem pelo Manchester United. De titular indiscutível passou a lugar cativo no banco de suplentes. A tensão entre ele e o treinador Erik Ten Hag é notória e não parecem restar dúvidas de que, apesar das (múltiplas) declarações de Ten Hag de que Cristiano continua como um activo desejado no United, o português procura alternativas para o prosseguimento da sua carreira. O problema é que os clubes europeus que poderiam interessar a Ronaldo não estão interessados na sua contratação.

  Grande objectivo da proposta de Orçamento de Estado para 2023, retirar Portugal da lista dos mais endividados da União Europeia. Como? Fixando uma inflação para 2023 em 4% (valor, muito improvavelmente, irrealista, por defeito) e propondo aumentos salariais inferiores a esse limiar. Por outras palavras, na sequência de 2022, empobrecendo, ainda mais, as gentes deste país.

  Desde que se retirou da vida pública, Pedro Passos Coelho tem mantido uma descrição notável. Não comenta, não escreve artigos para o Expresso de seis em seis meses, nada. Ao que se sabe, estará a preparar um livro de memórias do tempo em que foi Primeiro-Ministro. Perante a fragmentação da direita e o avanço da direita radical, o nome de Passos Coelho tem sido referido como o único nome capaz de servir de pólo agregador à direita, travando, dessa forma, o crescimento da direita radical (leia-se Chega). Resta saber o que pensará Pedro Passos Coelho de tudo isto. PS-"Um activo político para o futuro", foram as palavras textuais do Presidente da República a propósito de Pedro Passos Coelho, quem sabe, posicionando-o numa espécie de primárias para a próxima corrida a Belém.

  Apanhado debaixo do fogo mais cerrado da sua carreira presidencial e consciente de ter pronunciado a frase mais infeliz destes seis anos, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: "Não pensem que me vou fechar no palácio". Pois bem, dito e efeito, nada como beber um copo com o povo genuíno numa qualquer tasca deste país.

No próximo dia 30 de Outubro vai disputar-se a segunda volta das Presidenciais brasileiras. Na primeira volta Lula da Silva recebeu 48.4% dos votos e Jair Bolsonaro 43.2%. Para muita gente, foi um balde de água fria pois estava em cima da mesa uma eventual eleição de Lula na primeira volta. Entretanto, nas intenções de voto, Bolsonaro tem vindo a aproximar-se de Lula, transformando o resultado do próximo dia 30 de Outubro numa autêntica incógnita, ainda que, à data em que escrevo, as diversas sondagens continuem a apontar Lula como próximo Presidente do Brasil.

  Já alguém percebeu se a proposta de Orçamento de Estado para 2023 é restritivo ou poderia (deveria) ir mais longe no apoio às famílias? O ano de 2022 vai ficar na História como um ano de perda generalizada de poder de compra. Apesar disso, a grande prioridade da proposta de OE para 2023 é a redução da dívida pública e não repor, ainda que parcialmente, a perda verificada em 2022. Desde Mário Centeno que o Governo é useiro e beseiro em inscrever despesa que não tem intenção de realizar. Logo, caso se verifique mais uma vez, não haverá razão para espanto. Uma coisa é certa, como afirmou o Presidente da República, a almofada para 2023 é enorme. Mas, como escrevi mais acima, já conhecemos o destino dessa almofada! Quanto aos aumentos para 2023, cuidado. O Governo, deliberadamente, mete tudo no mesmo saco (aumentos, promoções, etc) e mais dinheiro, mensalmente, na carteira (por atualização dos escalões de IRS, por exemplo), significa menor reembolso aquando da liquidação final.

  Terá sido a eliminação do Sporting pelo Varzim (da Taça de Portugal) o princípio do fim de Rúben Amorim como treinador do Sporting? Afinal o problema não será apenas Esgaio ou qualquer outro jogador.

  Querido líder, não acha que o "joguinho" já está a ir longe demais? Seguramente, na Coreia do Norte, haverá gente a passar privações e o dinheiro gasto no(s) lançamento(s) dos mísseis seria muito melhor empregue na minoração do sofrimento dessa gente. Por outro lado, tanta insistência na demostração de força, em muitas situações, não é mais do que um desviar da atenção de outros problemas. E se, por azar, um míssil em vez de cair no mar, atingir a Coreia do Sul ou o Japão? Valerá a pena arriscar uma nova guerra na Coreia?

  O antigo Ministro das Finanças da Alemanha, figura central na crise das dívidas soberanas europeias, Wolfgang Schäuble, continua igual a si mesmo. Aquando da crise, todos se lembrarão da sua intransigência em castigar os "preguiçosos do sul". Pois bem, agora que o Inverno se aproxima, perante a crise energética, aquecimento mais caro e eventuais falhas de electricidade na Alemanha, o conselho dele aos seus conterrâneos foi, sem papas na língua, "Choraminguem menos, vistam duas camisolas e acendam velas". Afinal não era só má vontade contra os preguiçosos! É mesmo um coração empedernido...

  A grandeza de um número é sempre relativa. Por muito grande que um número seja, é sempre possível imaginar um outro cem, mil, um milhão de vezes maior. E no que toca aos abusos sexuais praticados por membros da Igreja católica em Portugal, 400 casos validados até pode não representar um número "particularmente elevado", como disse Marcelo Rebelo de Sousa, mas, considerando de quem estamos a falar, a mim, parece-me um número escandalosamente elevado.

  Já andamos há 50 anos em estudos para a localização do novo aeroporto de Lisboa. Se o Primeiro-Ministro não decide e o líder da oposição também não quer decidir, para resolver o problema, não seria uma boa ideia entregar o assunto a Pedro Nuno Santos? Ele parece ser o único homem com ideias (e vontade) para resolver o imbróglio. Seja qual for a localização que venha a ser escolhida, haverá sempre quem discorde e esta nova avaliação apenas introduz uma nova localização, Santarém, a qual, pela distância a que se encontra da capital, exigirá mais alguns milhões em infraestruturas que "aproximem" Santarém de Lisboa.

Em seis meses, o Governo de António Costa passou do céu ao inferno, com quase metade dos portugueses a considerar o Governo mau ou muito mau, a pior dos últimos anos. Foram seis meses de Governo de maioria absoluta, com diversos casos, ministros envolvidos em polémicas e até a substituição da Ministra da Saúde. Esta mudança, contudo, parece ainda não se refletir nas intenções de voto, com o PSD a capitalizar muito pouco deste descontentamento. 

  Para quem tinha começado bem, as últimas declarações de Luís Montenegro foram um autêntico tiro no pé. Apelar ao voto no Chega, ainda que seja para um lugar de Vice-Presidente da Assembleia da República, significou o quê? Que em futuras eleições, se uma maioria depender do Chega, teremos um Governo Montenegro-Ventura?